Texto centésimo primeiro
Sou da terra.
Sou do barro, brutalidade pura em que fui modelado pelo sopro que me anima. Pertenço ao chão que me tem, elevo-me no ar que me transcende. Existo nesta plenitude que de todos os lados me envolve a partir de dentro.
Seguro nas mãos esta completude que não abarco, domino esta natureza que não possuo, porque dela sou. Ergo-me acima do mundo que me abraça, assumo o meu sentido de fundir-me na construção dele, recuso destruir-me no colapso que lhe provoco.
Sou da terra, modelado num sopro. Matéria e espírito num só, o Outro em mim, feito em mim num mandato de entrega aos outros, um impulso de devolução.
Sou para os outros, para todos os outros da terra, todos o Outro da terra de quem sou.
Sou da terra a que voltarei, libertado na entrega aos outros. Caminho para o Outro. Humanidade. Eternidade.