A Poesia ilumina-nos; sem ela gritamos os terrores do escuro. A Poesia tinge-nos de todas as cores; sem ela definhamos numa imbecil monocromia. A Poesia lava-nos a alma; sem ela fazemo-nos corpos inertes afundados no pântano das nossas baixezas. Eleva-nos, a Poesia, ascende-nos e transcende-nos, porque, na magia das palavras (e dos silêncios que elas transportam), diz-nos a nossa origem, a Palavra de antes de a inventarmos.
A Ascensão da Água, de Samuel Pimenta, é um livro de Poesia, feito dos versos que a dizem. Leio-o, saboreio-o vorazmente. Sei que não é assim que se lê Poesia, é mais longo o seu tempo. Mas é inevitável esta pressa, cada verso do Samuel acelera a vertigem de mais, e os silêncios acumulam-se mais à frente, concentram-se numa intensidade esmagadora, eternidade poética em que fico depois. Leio-o e sinto subir em mim esta água primordial de que sou feito, nas grutas de aconchego e libertação que me escava, nas lágrimas de emoção em que me transborda. Quero mais, não quero mais, está tudo ali.
A Ascensão da Água é um livro de pura Beleza, um canto de libertação e denúncia, um manifesto urgente de emancipação e compromisso: temos de acordar, compreendermo-nos na essência do que somos, comungar a natureza para alimentar o espírito, povoar a memória dos caminhos em que a humanidade se faz. E temos também de depurar excessos, renunciar aos barroquismos que nos desfiguram, às ilusões que nos desvirtuam: abandonar a ganância e abraçar a Poesia, derrubar estruturas caducas e contemplar a ascensão da água.
«Só assim haverá história / para quem ainda não nasceu» (Samuel F. Pimenta, «Invocação», in A Ascensão da Água).
É urgente ler A Ascensão da Água, porque, cada vez mais, precisamos de Poesia!